Pedra de Metal

sábado, 2 de janeiro de 2016

ENTREVISTA - Dementia 13


Adeptos ferrenhos dos clássicos de cinema de terror, os Dementia 13 extraíram, dessa devoção, um novo conceito no underground nacional. Este original projecto, fundado por  Marco S., Álvaro F. e Z. Pedro, destina-se e revisitar, de forma inteligente, algumas das clássicas obras de cinema que tiveram um lugar cativo nos medos da nossa infância e adolescência. Após os surpreendentes resultados obtidos com o EP de estreia, os Dementia 13 decidem avançar caminho e dois anos depois sai o primeiro álbum, “Ways of Enclosure”. Marco S. e Álvaro F. são as figuras, deste projecto, que se disponibilizaram a falar sobre o percurso que a banda tem atravessado. 

- "Ways Of Enclosure" encontra-se disponível no mercado, como olham agora para "Tales For The Carnivorous" e o que este novo trabalho nos trás de novo?  
Marco: O “Ways of Enclosure” é uma continuação lógica do “Tales for the Carnivorous” mas na minha opinião acaba por ser um trabalho mais maduro. Contudo, focamo-nos em manter exactamente o mesmo imaginário e a mesma sonoridade já que essa é a identidade da banda que nunca será alterada.
No EP as coisas foram feitas com menos recursos e desta vez tivemos ferramentas para fazer ainda melhor. E foi exactamete isso que fizemos com este novo trabalho. Desde o artwork à editora até à propria produção em si, tudo foi feito de forma a que pudéssemos dar uma continuidade fiel e honesta ao seu antecessor e, em simultâneo, conseguirmos elevar a fasquia.

- O projecto Dementia 13 quando foi idealizado foi automaticamente posto em prática ou foi sofrendo alterações?
Marco: Quando me foi feito o convite para integrar o line-up da banda, o Álvaro já tinha as coisas bem definidas acerca daquilo que a banda ía fazer e não demorou muito até começarmos a trabalhar nos temas. O Álvaro já tinha esta ideia há muito tempo mas aproveitamos na altura a pausa forçada de Pitch Black para dar vida a Dementia 13. A direcção a seguir sempre foi a de practicarmos uma sonoridade Death Metal, típicamente old school em jeito de tributo a muitas dessas bandas do final da década de 80 e 90. É isso que fazemos e que iremos continuar a fazer no futuro. 
  
- Vocês lançaram o EP "Tales For The Carnivorous" pela editora portuguesa Escaravelho Records, podias explicar os passos que foram dados até à decisão de lançar este novo trabalho por uma editora espanhola?
Álvaro: Depois de editarmos o EP, a Memento Mori ouviu o nosso som e de imediato mostrou interesse. Contactou-nos, fomos falando e no final de toda a promoção (concertos, etc) ao EP avançamos com a edição do álbum de estreia pela Memento Mori. Da nossa parte, não foi difícil decidir pois gostamos imenso do trabalho deles, das bandas, dos lançamentos, etc. São 100% Underground, apoiam e ajudam as bandas (e não só) e é disso que o Underground necessita. Para além do mais, é uma editora de Death Metal que sabe onde promover as suas bandas. Preferimos sempre trabalhar com alguém que se movimenta no mesmo meio e, principalmente, é fã do género que praticamos. Isso é o mais importante.

- O vocalista Nuno Lima fez a parte vocal no EP e agora no album. É ele "a voz do terror"?
Marco: Verdade, o Nuno gravou as vozes nos dois registos. Apesar de não integrar o principal line-up da banda, seria óbvio ser ele, uma vez mais, a voz de Dementia 13 e como reside fora do país, isso foi possível pois aproveitamos a oportunidade dele estar em Portugal quando estávamos a gravar. O Nuno é um dos músicos que mais colabora connosco (juntamente com o João R. na bateria) e se houvesse a possibilidade de ser ele a gravar, seria a nossa primeira escolha. Se tal não fosse possível, teríamos de recorrer a outro músico. Felizmente conseguimos juntar o útil ao agradável.

- Até agora tem sido um tema para cada filme, já pensaram futuramente em dedicar um álbum inteiro a um só filme?
Marco: Não me parece que isso possa acontecer. O facto de dedicarmos um filme a cada tema dá-nos mais margem para abranger várias obras que gostamos e permite-nos também expandir a possibilidade de abordar registos diferentes dentro do cinema de culto de Horror. Para além do mais, essa é, precisamente, uma das imagens de marca da banda, que não será alterada nunca. Cada tema é directamente inspirado num determinado filme e a letra contará sempre a história do mesmo.

- Tal como acabamos de referir, cada tema do álbum é dedicado a um determinado filme de terror. Em relação ao título do próprio álbum, que tipo de função tem ele dentro deste contexto?
Álvaro: A capa do álbum, apesar de não ser tão óbvio assim, é inspirada no conto “The Black Cat” de Edgar Allan Poe, bem como na adptação do mesmo ao cinema pelo realizador Italiano Lucio Fulci, no filme com o mesmo nome. Mais concretamente, é inspirado na cena final do conto/filme. A ligação com o título é a relação com o enclausuramento humano, pois trata-se de uma cena onde uma vítima foi deixada à morte dentro de uma parede de pedra e cimento, improvisada na cave da casa do assassíno. O desenho da capa retrata, precisamente, o momento em que a parede é destruída e é descoberto o cadáver.

- Sendo vocês grandes apreciadores de clássicos, qual das décadas, 50, 60, 70 e 80, foi a melhor época do cinema de terror?
Álvaro: Não sei se serão as melhores (alguns, concerteza, dirão que não) mas para mim, terão de ser as de 70 e 80, bem como até meados dos 90's. Tanto no cinema Americano como no Europeu, temos grandes obras do cinema de Horror que permanecerão para a eternidade como clássicos. De qualquer forma, são também os filmes destas décadas que mais nos influenciam em Dementia 13, tanto a nível lírico como também o feeling que pensamos enquadrar-se melhor  na nossa sonoridade.

- Entre 2013 e 2014 deram imensos concertos, mas com a situação do vocalista fora do país as coisas tornaram-se mais complicadas para tocar ao vivo. Como estão a pensar solucionar esta barreira?
Marco: A banda possui 3 elementos fixos, o Álvaro F. na guitarra ritmo (criador e fundador do projecto), eu na guitarra solo e o Z. Pedro no Baixo. Depois temos dois convidados que podem ser diferentes tanto em actuações ao vivo como em trabalhos de estúdio. No “Tales for the Carnivorous”, por ex, o Xinês (ex-Switchtense, Awaiting the Vultures) gravou as baterias mas foi o João R. (RDB, Extreme Retaliation) que tocou connosco quase sempre ao vivo, tendo ainda o Hugo S. (AntiVoid, Unfleshed, Buried Alive) ajudado em algumas datas. Já neste “Ways of Enclosure” tivemos a participação do Marcelo A. (Colosso, W.A.K.O., ex-Heavenwood, The Ominous Circle) que esteve encarregue de gravar as baterias mas ao vivo teremos o João ou outro baterista a acompanhar-nos. Quanto ás vozes, o N. Lima deu o seu contributo em todos os concertos exceptuando um em que tivemos a participação do Bombeiro (Cape Torment). Quer isto dizer que sempre que o Nuno não nos puder acompanhar ao vivo por força das circunstâncias, a banda contará sempre com outro elemento convidado para ocupar esse lugar. E a ideia é (e sempre foi) trabalhar com outros músicos, sempre que possível. Contudo, no futuro, os concertos não serão tão regulares como em 2013/2014 pois tanto o Álvaro como eu estaremos mais focados nas nossas bandas principais, Pitch Black e Biolence. Para 2016 está já o Steel Warriors Rebellion em Barroselas confirmado e mais algumas datas se seguirão mas serão poucas. Aproveitem!! :) 

- Quando formaram este projecto, alguma vez pensaram no sucesso gradual que tem vindo a ter?
Marco: Não, muito sinceramente não. Aliás, para ser franco penso que nenhum de nós estava a pensar dar tantos concertos como demos em 2014, por exemplo. Mas a verdade é que o conceito de Dementia 13 acabou por ser muito bem aceite pelo nosso Underground e, principalmente, além fronteiras. Acho que estava um pouco em falta este tipo de sonoridade mais tradicional e que tem sido aos poucos abandonada por um tipo de Death metal mais progressivo, técnico e rápido. Pessoalmente também gosto imenso desse tipo de Death Metal, mas sem dúvida o tradicional é o meu preferido e havia uma falha desta sonoridade cá em Portugal e até mesmo no resto do Mundo. No entanto, já há alguns anos que têm vindo a surgir projectos mesmo muito interessantes no Underground (e mesmo fora dele). O Death Metal old school está de volta e de muito boa saúde, acreditem!

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