Pedra de Metal

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA - The Spiteful


Esta banda de Leiria, maioritariamente influenciada pela sonoridade Thrash Metal, e já com uma longa carreira debruça-se, nesta entrevista, sobre a dificuldade que é ter uma carreira no mundo da música em Portugal, sobre a satisfação que foi editar o seu primeiro álbum depois de tantos anos de “batalhas”, sobre as digressões no estrangeiro, sobre o futuro que se prevê entusiasmante para a banda bem como sobre as lacunas que existem no panorama da música mais pesada a nível nacional e conselhos que dão a bandas mais novas. Pontuada sempre pelo bom humor mordaz da banda, a entrevista revela-se uma “caixinha de surpresas” e é bastante reveladora do carácter e personalidade dos The Spiteful.


PdM - Sei que já têm uma longa carreira mas para quem não vos conhece, poderiam dizer quando fundaram a banda e fazerem um resumo da vossa história até aos dias de hoje?
The Spiteful (TS) - Dentro do que é possível recuperar dos poucos neurónios sobreviventes desses tempos, a nossa melhor estimativa é que a banda terá começado provavelmente em Abril de 1998. Passados uns anos a definir a identidade musical do thrash metal que nos viria a caracterizar, editámos a primeira maquete, homónima, em Julho de 2001, que serviu essencialmente para tomar o primeiro contacto com o estúdio e com o processo de gravação, bem como para ter um cartão de visita para promoção. Fomos para a estrada, tocámos um pouco por todo o lado, e com a experiência adquirida, voltámos para estúdio, e editámos no final de 2001 o single "Piece of Mind", ainda hoje um tema interpretado ao vivo, e considerado emblemático do som da banda.
Nos dois anos seguintes, continuámos com os concertos ao vivo, e achámos finalmente que estávamos preparados para gravar um EP, "Upheaval", que reflecte o nosso crescimento musical, nesse período, e permitiu fazer chegar o nosso som a um público mais abrangente.
Passámos, depois, por uma fase algo conturbada, que acabou por levar à saida do nosso vocalista -- até essa altura nunca tínhamos tido nenhuma mudança de formação. Com a entrada de um novo membro, conseguimos, no entanto, levar a banda por novos caminhos, e ganhar a confiança necessária para avançar para a gravação do nosso primeiro longa-duração, "Persuasion Through Persistence", editado pela Rastilho Records, uma editora dinâmica e com grande impacto na cena musical do país. Com este trabalho no arsenal, arriscámos as primeiras internacionalizações, com duas mini-tours na Polónia e na Roménia. As fantásticas recepções aí vividas dão-nos alento e energia para continuar a pensar em tocar mais para públicos transfronteiriços. São sempre experiências bem interessantes. Actualmente estamos a iniciar a preparação de um novo trabalho.


PdM - Porquê The Spiteful (traduzido para português significa qualquer coisa como rancorosos) para nome da banda?
TS
- Tínhamos uma lista com uns 10 nomes... de repente é sugerido spiteful e houve aprovação unânime imediata.. Além de identificar bem o status quo geral da banda, temos um grande rancor com escolhas demoradas de nomes.. (risos)

PdM - Apesar da vossa longa carreira, e do lançamento da vossa demo homónima em 2001 e do EP Upheaval em 2003, apenas lançaram o vosso primeiro álbum de nome “Persuasion through persistence” no Verão de 2009. Porquê tanto tempo? O nome do álbum está relacionado com este longo processo?
TS
- O hiato provocado pela saída do anterior vocalista, e a longa busca daí decorrente até encontrar o Tarrafa, levou a essa demora, aliás, deveras angustiante... e sim, o nome do álbum acaba por reflectir isso mesmo. Depois do esforço e sacrifício exigido para conseguir finalizar o álbum, era um baptismo inevitável...

PdM - Depois de tanto tempo, como se sentiram em estúdio sabendo que estavam a gravar o vosso PRIMEIRO álbum? Existe um feeling especial nessa altura não?
TS
- Estar em estúdio é sempre especial, mas como já tinham havido experiências no passado, não houve propriamente essa sensação de perda de virgindade (risos).
A preocupação foi a de fazer o melhor possível, tentar acrescentar algo de novo, minimizando quaisquer pressões e divertirmo-nos bastante no processo, mas não estava presente esse peso de ser o PRIMEIRO álbum, estávamos demasiado ocupados para pensar nisso. Agora se perguntares qual o feeling de rasgar o celofane do CD acabadinho de chegar da fábrica e pô-lo a tocar bem alto...

PdM - Como foi já agora?
TS - Um alívio completo por finalmente estar tudo terminado e podermos avançar,
porque era uma luta que já durava um ano. O trabalho acabado nas mãos depois de tantos obstáculos e tanto problema... foi uma grande vitória para a banda.

PdM - Que temas é que abordam no vosso álbum? Existe algum tema central que orienta o álbum a nível lírico? É o vosso vocalista que escreve as letras ou toda a banda?
TS
- É o nosso vocalista que escreve as letras e é muito raro partilhar o tema ou
significados com o resto do pessoal. São coisas que só fazem mesmo sentido na cabeça dele e que vêm do seu inconsciente, das coisas que lê, que vê...etc. Creio que cada um deve retirar aquilo que vê reflectir-se no seu próprio pensamento... Quando olhas para a capa, o que é que vês? Uma versão do diabo a entregar-te a maçâ ou uma Eva a recebê-la de ti?

PdM - Fizeram questão de produzir, gravar e fazer a engenharia de som vocês próprios tendo a colaboração de Daniel Cardoso na mistura e masterização. Porquê a opção de não terem uma pessoa externa à banda a produzir o vosso álbum?
TS
- Tinhamo-lo feito antes, e a verdade é que era bastante difícil poder fazer as coisas ao nosso ritmo. Ao trabalhar de forma independente, tivémos maior liberdade tanto para organizar processos de trabalho como para demorar todo o tempo que fosse necessário, sem pressões. Claro que se poderá perder algo em termos de espírito crítico, mas consideramos que somos bastante exigentes connosco próprios, e a contribuição do Daniel Cardoso acabou por ser também fundamental para a qualidade do produto final.

PdM - Sem pôr em causa a competência da banda e de Daniel Cardoso que está bem patente no vosso álbum mas já puseram a hipótese de trabalhar com um “grande nome” em termos de produção internacional como Colin Richardson ou Andy Wallace só para citar dois exemplos?
TS - Fizémos alguns contactos nesse sentido, mas acabaram por ser proibitivos os custos de uma aventura dessas.. Mas não está colocado de parte fazê-lo no futuro!


PdM - Como correu a vossa digressão de Verão na Polónia? Qual a diferença entre a cena portuguesa e a cena polaca? E a nível de reacções no público, notaram diferenças?
TS - A tour polaca foi um dos melhores momentos da vida desta banda - 5 dias de festa e metal permanentes! Tocámos com excelentes bandas locais, em clubes com grandes ambientes. Fomos muito bem acolhidos pelo público, que mesmo sendo diferente do nacional, continua a fazer parte dessa tribo global que são os metaleiros, e que não conhece fronteiras!


PdM - Conseguiram a digressão na Polónia através do vosso guitarrista Mota e do contacto frequente que ele tem com o país. Como surgiu a vossa data em Burgos, Espanha? Como correu? É a própria banda que faz o seu management ou têm alguma pessoa externa à banda que trate dessa vertente?
TS - A data de Burgos foi organizada pelo Sérgio, que por duas ou três ocasiões teve oportunidade de visitar o espaço e dar a conhecer o som da banda a quem o gere.. depois de algum tempo surgiu o convite, que nós agarrámos com unhas e dentes! Em boa hora, porque foi, sem dúvida, um dos nossos melhores concertos de sempre! Fizemos amigos e estamos cheios de vontade de voltar. Nuestros hermanos sabem curtir!

PdM - O vosso contrato com a Rastilho Metal Records é por quantos álbuns? O álbum tem tido boa aceitação? A nível de vendas têm informação de quanto venderam no mercado nacional? Conseguiram distribuição internacional?
TS - O “Persuasion Through Persistence” tinha sido um acordo one-shot, mas dado que a experiência agradou a ambas as partes, já está aceite repetir, nos mesmos moldes! Portanto vamos caminhando “álbum a álbum”. Temos um contacto bastante próximo com o Pedro da Rastilho, e a transparência no relacionamento é total. Ele assegura distribuição nacional e internacional, bem como online, pelas vias habituais. Podemos considerar que tem tido boa aceitação, com críticas no geral bastante positivas - no entanto o próximo será ainda melhor!

PdM - Já falaram nas vossas influências que se repartem por lamb of god, slayer, sepultura, pantera, machine head, meshuggah, the haunted, hatesphere, chimaira, god forbid entre outras. As influências são homogéneas entre os elementos da banda ou existe alguma variação de preferências entre os membros?
TS - Há bastante homogeneidade nessas preferências, mas depois cada membro tem a sua pancada pessoal por outras sonoridades (e que invariavelmente tenta impingir ao grupo, com maior ou menor sucesso). Desde que demos por nós numa discoteca polaca a cantar bon jovi em coro que percebemos que tudo é possível (desde que haja cerveja que chegue), e todas as influências podem conseguir penetrar mesmo o mais apertado dos esfíncteres.. (risos)

PdM - A banda consegue viver profissionalmente da música? Se não, a título de curiosidade, qual a profissão actual de cada elemento da banda?
TS
- Viver da música? Ora aí está um sonho molhado recorrente... parece-me que poucas bandas de metal em Portugal podem fazê-lo.. pelo menos directamente com a banda. Entretanto cada um tem a sua profissão, onde passamos o tempo a gerar rancores inspiradores dos próximos temas/concertos. Fazemos um pouco de tudo: da indústria porno ao tráfico de armas e de órgãos, passando por investigação clandestina com células estaminais. Acredita, para tua segurança, que é melhor não perguntares....

PdM - No vosso concerto no Nirvana Studios, Oeiras, em Novembro passado notei um grande entrosamento entre os elementos da banda reflectindo-se numa muito boa actuação. Também sentem, individualmente e como colectivo, que estão a melhorar? Decerto que as diversas actuações que têm tido, nomeadamente, na Polónia contribuiram para esse entrosamento já que os “obriga” a sair da vossa zona de conforto (palcos nacionais)?
TS - As experiências ao vivo correspondem sempre a grandes evolução da banda como um todo, e por isso consideramos serem tão importantes. Sem dúvida que as mini-tours na Polónia e na Roménia contribuíram muito para isso, e também por isso pretendemos continuar sempre a tocar ao vivo, mesmo durante o processo criativo da composição do novo álbum.


PdM - Gostariam de abrir para uma grande banda internacional num palco português? Existem janelas de oportunidade para isso ou revela-se muito difícil?
TS - Naturalmente que é um objectivo poder integrar um cartaz com uma banda “grande”, e não pomos sequer de parte assumir nós próprios a organização de um tal evento. No entanto, os custos envolvidos obrigam a um planeamento cuidadoso. Em termos de oportunidades, notamos que não estamos na “A-List” para alguns eventos, mas estamos confiantes que conseguimos mudar isso. Não obstante, já tivemos oportunidade de estar no cartaz de Dew Scented no Moita Metal Fest do ano passado, e vamos tocar com os Contradiction a 25 de Março, o que já é alguma coisa - e por isso temos de agradecer aos nossos grandes camaradas de Switchtense.

PdM - Que é que pensam que falta à cena portuguesa para se desenvolver mais? Notaram melhorias ao longo dos anos?
TS - Neste momento há grandes bandas em Portugal, ao nível do melhor que se faz lá por fora, indiscutivelmente. Se calhar faltou o acesso a canais de distribuição tradicionais no passado, mas a divulgação e promoção em massa é cada vez mais uma realidade tanto por força de uma maior facilidade em distribuir online, como pela aposta das novas editoras que não têm medo de arriscar - e disso a Rastilho é o melhor exemplo, que conseguiu ter no seu “plantel”, e em pouco tempo, alguns dos nomes mais sonantes do metal nacional. Temos sorte de partilhar a label com grandes bandas, grandes músicos e grandes companheiros de estrada. Por outro lado continuam a faltar espaços para tocar música pesada... um circuito organizado, receptivo ao metal e em que essa qualidade das bandas seja reconhecida através das condições que lhes são oferecidas, pelos organizadores e pelo afluência de público.

PdM - Qual foi o momento mais alto, o que vos encorajou mais e o momento mais baixo, o que vos desmotivou mais na vossa carreira?
TS - Momentos altos houve vários, eu destacaria o lançamento do álbum, que significou muito para nós, bem como estas recentes experiências no estrangeiro. Momentos baixos preferímos ignorá-los, mas obviamente que o tempo que estivémos sem vocalista foi bastante deprimente - nunca quisémos baixar os braços, mas objectivamente e em retrospectiva, percebe-se que o fim esteve bem próximo! Felizmente foi tudo ultrapassado, e o futuro assemelhasse-nos a uma grande ostra sumarenta (recheada com leitão.... e vinho.)

PdM - Que conselhos dariam às novas bandas que estão a começar?
TS - Dêem o melhor, não desistam, sigam o vosso próprio caminho...
E caguem d’alto prós conselhos dos outros !!

PdM - Quais são os planos para o futuro próximo para os The Spiteful? Já têm em vista a gravação do segundo álbum? E a nível de digressões internacionais, planeiam visitar mais países?
TS - O novo álbum já começou a dar os primeiros passos, e apesar de não irmos suspender as actuações ao vivo, esperamos poder no final do ano ter novidades. Sem dúvida que no verão teremos que repetir a experiência “internacional” do ano passado. Já começámos com alguns contactos na Alemanha e no Reino Unido, vamos ver o que sai...

PdM - Muito obrigado pela vossa disponibilidade e felicidades para a vossa carreira!







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